Publicado em: 02/07/2022 Atualizado:: julho 2, 2022
Por Almir Zarfeg
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Álvaro Pinheiro se graduou em engenharia elétrica pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em 1983, mas se destacou como homem público. Ele faleceu na última quinta-feira (30), em Vitória/ES, aos 62 anos, vitimado por problemas hepáticos. Foi um político talentoso que soube tirar vantagem das circunstâncias.
Álvaro estreou na política propriamente dita em 1991, quando se elegeu deputado estadual pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN), legenda pela qual, em 1989, Fernando Collor de Mello derrotara Luiz Inácio Lula da Silva, chegando à Presidência da República.
Álvaro obteve exatos 8.889 votos e, aos 32 anos, chegou à Assembleia Legislativa da Bahia para cumprir um mandato de quatro anos. Naquelas mesmas eleições, também foram eleitos Edival Passos – itanheense como Álvaro, mas representante de Salvador, e Temóteo Brito – representante de Teixeira de Freitas.
Aqui entram os ventos que sopraram em favor do novato: (1º) ele era filho de Manoel Batista dos Santos, o Neco Batista, que havia sido eleito prefeito de Itanhém, em 1988, sucedendo a Gedeon Botelho. Ter o apoio do pai prefeito, sem dúvida, fez toda a diferença na campanha vitoriosa do filho para deputado estadual. E (2º) não há como negar que ele foi beneficiado pela onda collorida – protagonizada pelo “caçador de marajás” – que na época soava como novidade.
Na Assembleia, Álvaro se tornou vice-líder da bancada do PRN e, em seguida, foi escolhido presidente da Comissão de Agricultura e Política Rural. Ainda conseguiu ser titular e suplente de outras tantas comissões. Tais conquistas foram viabilizadas pela facilidade e agressividade com que o itanheense discursava da tribuna legislativa. As críticas ao então governador ACM – que renunciaria ao final do mandato para se candidatar ao Senado nas eleições de 1994 – incrementavam o cardápio do jovem parlamentar.
Na prática, porém, o mandato de Álvaro Pinheiro pouco ou quase nada rendeu para Itanhém. Impossível apontar um único benefício que tenha a assinatura do já saudoso deputado estadual, mesmo porque ele preferiu abraçar as demandas de outros municípios, de olho numa possível reeleição. Além disso, apostava que seu pai faria o sucessor em Itanhém, nas eleições municipais de 1992, o que não aconteceu. Assim Álvaro se frustrou duplamente.
Ele ainda se candidataria a deputado estadual em sucessivas eleições, sempre pelo PMDB, mas fracassaria em todas as tentativas. Acabou se aproximando de Geddel Vieira Lima, manda-chuva do PMDB – hoje MDB – na Bahia. Aliás, por causa do apadrinhamento de Geddel, Álvaro seria nomeado diretor de energia da Superintendência de Energia e Comunicações da Secretaria de Infraestrutura da Bahia, durante o 1º governo Jacques Wagner (2007/2010), graças à dobradinha PT/PMDB. A parceria do afilhado dedicado com o padrinho ilustre duraria longos anos e, com certeza, lhes renderia mais alegrias do que tristezas.
Foi também pelo PMDB de Geddel que Manoel Batista retornou à prefeitura de Itanhém nas eleições de 2000, apoiado por Gedeon Botelho e tendo Álvaro Pinheiro como coordenador de campanha. Mais que isso – justiça seja feita – como articulador e estrategista.
Pelo mesmo PMDB, Zulma Pinheiro seria eleita prefeita de Itanhém nas eleições de 2016, dessa vez com o apoio de Oséas Moreira e sempre tendo Álvaro Pinheiro como mentor intelectual.
Tanto no 2º mandato do pai (2001/2004) como no da irmã (2017/2020), Álvaro assumiu estrategicamente a pasta da Educação no município. Dessa maneira, aliou as funções de estrategista político às de pseudogestor educacional. Desenvolveu ações interessantes no ensino infantil, mas protagonizou equívocos como a desativação da Escola Família Agrícola de Itanhém (EFAI) e programas sociais relevantes, como o AABB Comunidade, e deixou de apoiar outros tantos, como o ABC do Ó.
Em 2004, cheio de autoconfiança e de posse da máquina administrativa de Itanhém – que tinha seu pai como prefeito de direito –, Álvaro tentou uma aventura para lá de temerosa: resolveu se candidatar à prefeitura de Vereda. Para impressionar os supostos eleitores, sobrevoou a cidade de helicóptero ao lado do deputado federal Geddel Vieira Lima. Apesar de ter sua candidatura questionada na Justiça – acusado de não possuir domicílio eleitoral e de abuso de poder econômico –, Álvaro participou da campanha normalmente, mas foi derrotado nas urnas.
Não resta dúvida de que parte do talento político de Álvaro Pinheiro veio do pai, Neco Batista, figura das mais emblemáticas da política itanheense. O senso persecutório, o centralismo familiar, conservador e ramificado no nepotismo explícito, mas eficiente, bem como a atitude personalista diante da coisa pública, tudo isso o filho herdou do pai. Filho de peixe, peixinho é – diríamos sem medo de exagerar ou errar.
Mas Álvaro Pinheiro, à sua maneira e esforço, cuidou de aperfeiçoar o “jeito Neco Batista” de gerir a coisa pública em Itanhém. Sobretudo de praticar a arte da política. Não revolucionou coisa alguma, mas também não deixou de fazer história. Realmente é mais fácil politicar do que praticar o bem.
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Almir Zarfeg é jornalista, poeta e presidente de honra da Academia Teixeirense de Letras (ATL)