Publicado em: 01/08/2022 Atualizado:: agosto 1, 2022
Por Roberto Martins
Li o seu “Estação 35” (Lura Editorial, 2021) em dois fôlegos – minha visão já não anda boa. Mas a leitura é agradável e cativante, além das informações históricas da Bahia/Minas e suas 34 estações. Sairia a 35? Só perguntando ao chinês, mas pra isso é preciso ir até o fim da leitura.
Gostei do romance, tanto pelo enredo original que liga o passado ao presente numa trama criativa, como pelas informações saudosas dos 85 anos em que a Maria-fumaça trafegou até ser descartada para a tristeza de tantos. A questão ferroviária no Brasil sempre me cativou. Ainda na infância, em Ipiaú, da fazendinha onde morávamos acompanhávamos a construção do ramal da antiga Estrada de Ferro de Nazaré, que iria ligar Jequié a Itabuna, conectando as duas ferrovias. Víamos aqueles imensos cortes e aterros, feitos à base da picareta, do transporte com a galeota, rompendo morros e aterrando vales, numa obra sem fim que ao fim se perdeu. A Nazaré foi erradicada, assim como a Ilhéus/Itabuna. E o projeto de ligar esta, cortando norte/sul, o sul e extremo sul da Bahia, à Bahiminas, nem chegou a ser efetivamente começado.
Quando escrevi “Porto Seguro: história de uma esquecida capitania”, cheguei a pesquisar a Bahia/Minas e até visitar algumas localidades, como Ponta da Areia e Caravelas, onde fotografei a bela estação que passou de ferro a rodoviária. Mas não fui além, apenas me deleitei com Brant e Milton Nascimento com sua “Ponta de Areia, ponto final…”
Certa vez em 2011, fiz uma viagem de passeio a Belém, e lá havia uma feira de livros. Fui visitar, naturalmente. E cheguei até o lançamento de um livro: “Trilhos: O caminho dos sonhos (Memorial da Estrada de Ferro de Bragança)”, que possuo autografado. A história é similar à Bahiminas: iniciada ainda ao tempo do império, foi a primeira estada de ferro da Amazônia. E partindo de Belém, até alcançar os 212 quilômetros até Bragança, foram anos, avançada a República. O projeto de extensão até São Luís, no Maranhão, nunca saiu do papel. A erradicação? Também pelo governo militar em fins de 1964, só que o autor José Leôncio Ferreira de Siqueira atribui a uma causa diferente. Segundo ele foi uma represália contra o estado do Pará por parte do ministro da Viação e Obras Públicas de Castelo Branco, o general Juarez Távora, como vingança por seu indicado para interventor no Pará em 1930 ter sido preterido em favor do nome reivindicado pelos tenentes locais. Daí a vingança com a erradicação da EF de Bragança.
Discordo, acho isso pode ter influído na pressa da erradicação, mas você aponta o caminho certo. O fim de tantos ramais e estradas de ferro pela ditadura militar foi o coroamento de um projeto norte-americano para vender automóvel. Mas não só, o projeto era mais completo, impor uma verdadeira “sociedade do automóvel”, em que este passou a ser o carro chefe da economia e da vida nacionais. Além do próprio, era preciso de combustível par trafegar e de asfalto para em cima correr: petróleo! para gáudio das Sete Irmãs do Petróleo que dominaram o mercado até os anos 60.
Para finalizar, você marcou os 55 anos da erradicação e instigou uma campanha pela revitalização. Está na hora da campanha, se não pelos aspectos econômicos e como transporte de passageiros, mas pelo aspecto turístico, a mostrar a beleza de nosso mar, nossas matas (será que ainda existem?) e serras, a exemplo de várias outras restauradas pelo país afora. É um desafio para o extremo sul da Bahia, o Vale do Mucuri e o Nordeste mineiro. Um desafio do presente!