• SEJA BEM-VINDO

“Fábrica de Pedrocas”: bela crônica da escritora Katrine Carvalho

Publicado em: 03/08/2022 Atualizado:: agosto 3, 2022

 

Por Katrine Carvalho

 

Ninguém duvida que o nome Pedro está entre os mais populares do país e que Pedro Henrique – uma das mais de 200 variações de Pedro – lidera a lista dos dez antropônimos mais populares do pedaço.

As variantes Pedro Miguel e Pedro Lucas – chamados nomes compostos – também são bastante populares.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que se dá ao trabalho de – a cada censo – contar os Pedros, Josés, Joões e Antônios que existem por aí. Isso vale também para o número de Marias, Anas, Franciscas e Antônias nascidas todo ano.

 

Uma coisa é certa: Pedro e Maria sempre vão aparecer nas listas dos dez nomes mais populares – masculinos e femininos – do Brasil.

– Eu tenho muito orgulho de me chamar Pedro – afirmou alguém orgulhoso do nome que possui.
– E eu de ter o nome Maria no meu RG – disse a outra, insinuando-se para ele.

 

As pessoas desconfiaram de que, tanto orgulho e insinuação somados, poderia dar em algo mais sério… em namoro, por exemplo. Eles combinavam tanto e eram tão queridos por todos que, naturalmente, passaram a ser chamados de Pedroca e Maroca. Dito e feito. Deu namoro e casório.

 

Pedroca: “São tantos Pedros ilustres e notáveis que me sinto até constrangido de possuir o mesmo prenome que Pedro, o Grande, Pedro I, Pedro II, Pedro Augusto e Afonso Pedro”.

Maroca: “São tantas Marias especiais que eu, ao contrário de você, me sinto perfeitamente à vontade com esse prenome abençoado. Ave-Maria!”.

E dona Maroca se punha a citar Maria de Nazaré, Maria Antonieta, Maria I, Maria Quitéria, Maria Bonita, Maria de Médici, Mary Stuart, etc.

 

Ao se casarem, Pedroca e Maroca passaram a fazer parte da fábrica de Pedros e de Marias, obviamente. Se o primogênito nascesse menino, seria chamado de Pedro. Se fosse do sexo feminino, ganharia o nome de Maria. Com os devidos sobrenomes familiares, é claro. Se viesse um casal de gêmeos, muito melhor. Pedro & Maria.

 

Pedroca:
– Uma fábrica de humanidade, não é mesmo? Em que o amor e a gratidão produzem seres humanos e vida em abundância.

Maroca:
– Isso mesmo, meu bem. Um casal unido no amor e abençoado por Deus e pelo Estado, enfim, uma verdadeira fábrica de pessoinhas.

 

Nove meses depois, o menino nasceu forte como um Pedro, valente como um touro, disposto como um varão e nobre como um Bragança.

O infante cresceu, fez-se homem, completo como pessoa natural com personalidade civil, mas se revelou bem diferente do pai no final das contas. Fisicamente parecidos, mas as semelhanças paravam por aí. Para início de conversa, Pedro Filho detestava que lhe chamassem de Pedroca. Pedrinho… suportou até completar a infância. Pedroca… não, jamais.

 

Fora isso, pai e filho se entendiam às maravilhas. Até poderiam ser denominados de tal pai, tal filho. Ou filho de Pedro, Pedrinho é.

– Amores da minha vida – resumiu dona Maria, também chamada de Maroca.

 

……………………………………………………………………………………………………………….

 

Katrine Carvalho é autora de “Fred, o labrador amarelo” (2019) e “Fafá, a girafinha” (2022). Atuou também como jurada da 6ª edição do Prêmio Castro Alves de Literatura.


JORNAL INDEPENDENTE


Siga as redes sociais