Publicado em: 27/06/2024 Atualizado:: junho 27, 2024
O ministro da Justiça da Bolívia, Iván Lima, disse que o ex-comandante do Exército do país Juan José Zúñiga vai responder pelos crimes de levante armado contra a segurança e soberania do Estado, sedição de tropas e ataque ao presidente e outros dignitários. Os crimes estão previstos nos artigos 121º, 127º e 128º do Código Penal nacional e podem render pena de até 20 anos de prisão. A tentativa de golpe fracassou, e Zúñiga foi preso ainda nesta quarta-feira.
“Vamos buscar a condenação de Juan José Zúñiga à pena máxima de prisão possível para estes crimes, que é de 15 a 20 anos de prisão. A Procuradoria-Geral da República e a Procuradoria-Geral da República iniciaram o processo criminal e seguirão até que este soldado seja condenado”, disse Lima, nas redes sociais.
O ministro da Defesa da Bolívia, Edmundo Novillo, disse que o levante começou a ser orquestrado por Zúñiga por volta das 9h desta quarta. O ex-general teria recebido um telefonema de oficiais de sua confiança sobre a movimentação de um grupo de uma unidade militar de Challapata que viajavam em seis veículos, de acordo com o jornal La Razón. Novillo determinou a instauração de uma “investigação severa” sobre quem participou da mobilização militar.
Demitido do comando do Exército na véspera do levante, Juan José Zúñiga foi apontado como o nome por trás das mobilizações de tropas e tanques que tomaram a frente da sede da presidencial em La Paz, na Praça Murillo. A ação foi denunciada pelo presidente Luis Arce, que classificou as movimentações militares como “irregulares”. O ex-presidente Evo Morales afirmou existir um golpe de Estado em curso.
Membro do alto escalão do Exército boliviano, Zúñiga atuava como Comandante Geral desde 2022 até sua demissão nesta semana, segundo o jornal boliviano El Deber. Controvérsias e acusações diversas fazem parte da carreira do militar. Enquanto ocupava o cargo de Chefe do Estado-Maior, por exemplo, ele foi identificado por Evo Morales como um dos nomes envolvidos em um suposto plano para perseguir lideranças políticas.
Nesta segunda-feira, Zúñiga, durante uma entrevista na televisão, disse que Morales não poderia mais ser o presidente do país . O militar declarou que não permitira “que a Constituição fosse pisoteada, que desobedecesse ao mandato do povo”.
Evo Morales criticou as declarações feitas pelo militar em uma publicação no X, antigo Twitter. “O tipo de ameaças feitas pelo Comandante Geral do Exército, Juan José Zúñiga, nunca ocorreu em democracia. Se não forem desmentidos pelo Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, Ministro da Defesa, Presidente e Capitão General das Forças Armadas, ficará provado que o que estão realmente a organizar é um autogolpe”, escreveu Morales nesta terça-feira.
“Sou um militar de honra que está disposto a sacrificar sua vida pela defesa e pela unidade da Pátria. Nossa pátria, mais uma vez, está sob a ameaça de inimigos internos e externos que buscam a divisão, a desestabilização e o ódio entre os bolivianos, para se apoderarem dos recursos naturais em benefício de interesses mesquinhos e de grupos de poder que respondem ao caudilhismo”, disse o militar ao jornal El Deber ao responder as críticas de Evo Morales.
O histórico de conflitos entre os dois é anterior ao episódio desta semana. Zúniga também já foi acusado de fazer parte de um grupo de militares conhecido como “Pachajchos”. No final de 2022, Morales o acusou de ser o nome por trás de um esquema para desacreditá-lo. O governo boliviano negou a existência desses planos.
“É preciso ter cuidado com o grupo Pachajcho, organizado pelo chefe do Estado-Maior do Exército (Zúñiga). Militares que estão atrás de Evo, atrás dos dirigentes, perseguição permanente. A qualquer momento, este grupo Pachajcho do Exército vai montar provas, quero adiantar-lhes, alertar o povo”, disse Morales, em outubro daquele ano.
O general também já foi acusado de envolvimento em escândalos de corrupção, como o desvio de até 2,7 milhões de bolivianos destinados a programas sociais. Ele e outros 12 militares foram sancionados com sete dias de prisão pelo caso em 2014.
Em janeiro de 2024, Zúñiga foi descrito como um “especialista em inteligência militar” e um “espião a favor do governo”, com conhecimento dos movimentos de políticos bolivianos, pelo jornal boliviano El Deber. O militar também teria ligações com movimento sindicais, sendo chamado de “general do povo” e tende participado em eventos de diferentes organizações ao longo dos anos.
“É um general muito querido por nós, dirigentes. Chamamos ele de general do povo, é muito próximo ao povo e tem uma ótima coordenação com os movimentos sociais”, disse ao jornal boliviano um dirigente sindical ligado ao setor de mineração.
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Fonte: G1