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“O sapo e a rosa”, crônica zarfeguiana para celebrar o 37º aniversário teixeirense

Publicado em: 09/05/2022 Atualizado:: maio 9, 2022

 

 

Por Almir Zarfeg

 

A contragosto, o sapo deixou de devorar as formigas, que, agora, partem para cima da rosa. Isso significa que ela corre risco de vida. Ou de morte, que dá no mesmo.

 

Contra sua vontade, o bicho não pratica mais tiro ao alvo – ou melhor – língua às formigas. As quais, nesse exato momento, vão decapitar a rosa.

 

Injustiçado, ele perdeu o posto de guardião da rosa. Dispensado sem aviso prévio e seguro-desemprego. Por (in)justa causa.

 

O infeliz agora sobrevive pelos cantos saudoso do tempo em que era útil e prestativo. E certeiro: cada linguada arrasava meio mundo de formigas.

 

Graças à sua dedicação e empenho, a ordem e o equilíbrio eram mantidos naquele cantinho especial. Os insetos se mantinham à distância. Com sol ou chuva.

 

A rosa, sempre bela, vivia no melhor dos mundos. O cravo, vaidoso, não tinha do que se queixar. Isso valia para todos os moradores daquele ecossistema sob medida.

 

Bucólico e dedicado, o sapo dava seus pulos e coaxos enquanto cuidava do oásis teixeirense… Seu lema: “Primeiro a obrigação, depois a diversão”.

 

No entanto, o que recebeu em troca de tanta dedicação e empenho? Qual a paga pelo equilíbrio ambiental mantido durante tantos anos? Qual a recompensa pelos dias e noites de vigília? A demissão sumária!

 

 

Sapo-cururu da beira da BR-101! Expulso do reino encantado! Demitido da fábula!

 

Como se sentirá alguém que, tendo vivido no jardim das delícias, agora vaga pelo Teixeira Mall (toda vez que cai uma tempestade) ou sapeia na encruzilhada da Castelo Branco com a Princesa Isabel, na iminência de ser atropelado por um auto? Péssimo, é claro.

 

Mas isso não é nada comparado com a transformação por que passou o jardim! Em vez de verde, está cinza. No lugar do viço de antes, vê-se a destruição!

 

As formigas mandam e desmandam, donas do pedaço. Já traçaram o cravo vaidoso e, de quebra, o amor-perfeito, a boa-noite, a petúnia, o botão-de-ouro. Nem a dupla bem-me-quer/mal-me-quer resistiu ao cerco delas.

 

Quanto tempo resistirá a rosa desprotegida? A pobre rosa vermelha? A rosa cantada em verso e prosa?

 

Perdido em divagações, o sapo sente que é tarde demais. O jardim se foi e a rosa, coitada, vergará em dois tempos.

 

Se ao menos ela soltasse um “help”, se deixasse o orgulho de lado…

 

Mas o anfíbio não toma jeito! Masoquista dos jardins da existência! Se fosse menos abestalhado, descobriria que uma rosa é uma rosa é uma rosa (Stein); que o jardim, convite à preguiça, exige trabalho constante (Drummond); que uma rosa não fala, simplesmente exala o perfume que roubam de ti (Cartola).

 

 


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