Publicado em: 13/12/2022 Atualizado:: dezembro 13, 2022
Por Almir Zarfeg
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Odilon Botelho – mais conhecido como o “bom e velho Dila” – faleceu na manhã do último domingo (11) em Teixeira de Freitas, aos 94 anos, de causas naturais, mas teve o corpo velado e sepultado na cidade de Itamaraju, para onde se mudou no final dos anos 60 quando a localidade ainda era conhecida como “Escondido”.
Dila deixou 14 filhos, 29 netos e 07 bisnetos. A longa prole é fruto dos dois casamentos que contraiu em vida. Na primeira vez, ele se casou com Guiomar Gonçalves Figueiredo, com quem teve oito filhos: Maria das Graças (in memoriam), José Elias, Raniere, Omário, Rita, Antônio, Marlicélia e Eustáquio. Por conta de um erro médico, Guiomar veio a óbito em março de 1971, obrigando Dila a deixar os filhos sob a guarda de parentes, apenas Elias e Antônio permaneceram sob seus cuidados.
Em 1973, dois anos após a morte da primeira esposa, Odilon conheceu Euzenice Maria de Jesus, com quem conviveu até o final dos seus dias e teve mais sete filhos: Izailda, Izaildo, Izenilda, Ezenildo, Izabete, Izenete e Odilon Júnior.
Mas Odilon Botelho, cujo corpo descansa agora em paz no cemitério de Itamaraju, deixou uma prole grande e honrada. Entre os seus filhos figura, por exemplo, o romancista Elias Botelho, que é autor de livros como “Trilha Amarga” e “O homem que desistiu de ser rico” e ocupa a Cadeira 33 da Academia Teixeirense de Letras.
Se não bastassem os herdeiros de seu exemplo de pai, avô, bisavô e cidadão, Dila teve a vida marcada por aventuras que inspiraram o filho escritor que tem predileção pela temática rural. Com certeza, inspirado na vida paterna voltada ao cultivo da terra, especialmente à cultura do cacau.
Inicialmente, o clã dos Botelho trocou a cidade de Vitória da Conquista, no centro-sul baiano, por Itabuna, no sul baiano, mais precisamente por uma localidade chamada Ferradas. Os Botelhos vieram atraídos por melhores condições de vida.
A decisão de trazer a família para o sul baiano, no início dos anos 20 do século XX, partiu do patriarca dos Botelhos, Eustáquio Alves Botelho, que era casado com Donatilha Xavier Amorim. Avós paternos do pequeno Odilon Botelho, que nasceria em 21 de setembro de 1928 em Ribeirão das Antas, hoje parte de Itabuna.
Foi em Ribeirão das Antas que o pai de Dila, Antero Alves Botelho, adquiriu um pedaço de terra e, em seguida, convidou o patriarca Eustáquio e alguns familiares para desbravar a mata virgem. Décadas depois, com a propriedade ampliada, o patriarca dividiu tudo com os filhos.
Nesse cenário exuberante, marcado por dificuldades de toda ordem, o pequeno Odilon foi criado. Aos cinco anos, já acompanhava os pais na lida na roça. Aos oito anos, realizava serviços de capinagem e roçagem. Aos quinze anos, trabalhava como secador de cacau na barcaça e estufa de seu pai. Até porque era o filho mais velho e, portanto, pau para toda obra.
A idade de 15 anos marca também o início dos problemas de saúde que Dila enfrentaria pelo resto da vida, mas que, ainda assim, permitiram que ele chegasse à idade avançada de um nonagenário.
O primeiro grave foi uma apendicite, que obrigou que ele fosse transportado numa rede carregada por 15 homens, durante 14 horas, para ser atendido por um médico na atual Buerarema. Ele ficou alguns dias sob os cuidados do médico João Pina, até que tivesse alta e retornasse para casa.
Um mês depois as dores retornaram mais intensas deixando a família em desespero. A notícia de que um médico renomado de Salvador estava atendendo em Itabuna animou a família a mandar o jovem para lá. Por causa do inchaço no abdômen, o jovem foi aconselhado a fazer uso da penicilina – antibiótico que havia sido descoberto havia poucos anos por Alexander Fleming – antes de se submeter à cirurgia.
Antes de receber alta, por causa de complicações pós-operatórias, o jovem teve que ser operado de novo. Um ano depois, com a saúde restabelecida, finalmente voltou para Ribeirão da Antas, para a alegria da família. No entanto, teve que se manter longe de qualquer esforço físico.
Eis aí o primeiro de tantos problemas de saúde que o bom e velho Dila teve que enfrentar pela frente. Isso sem contar, evidentemente, a perda da primeira esposa, o desafio de cuidar dos filhos e, também, a grande aposta que foi trocar Salto da Divisa, no Vale Jequitinhonha, por Itamaraju, no extremo sul da Bahia. Dessa vez para ficar em definitivo.
A derradeira aventura que Odilon Botelho enfrentou em vida foi ter se mudado, há uns cinco anos, com sua família para Teixeira de Freitas, cidade mais importante da região, onde faleceu na manhã do último domingo. Mas recebeu o adeus final em Itamaraju. Que seja lembrado como um bom pai e um velho amigo. Enfim, como o bom e velho Dila.