• SEJA BEM-VINDO

Os 50 anos da Escola Polivalente de Itanhém são comemorados neste dia 30 de agosto

Publicado em: 30/08/2022 Atualizado:: agosto 30, 2022

 

…………………………

 

Por Almir Zarfeg

 

Faz 50 anos, comemorados neste dia 30 de agosto de 2022, que a Escola Polivalente de Itanhém iniciava oficialmente suas atividades pedagógicas. Era o dia 30 de agosto de 1972, uma quarta-feira, para ser mais exato.

 

No extremo sul baiano, além de Itanhém, apenas as cidades de Caravelas e Itamaraju foram premiadas com unidades da escola-modelo. Em toda a Bahia, foram inauguradas 39 unidades escolares entre os anos de 72 e 74.

 

As Escolas Polivalentes surgiram como uma estratégia político-pedagógica apoiada pela dupla Brasil/Estados Unidos, no bojo da reforma da Lei 5.692/71. A ideia era integrar a formação geral e a educação técnica, com ênfase na prática vocacional das artes industriais, técnicas agrícolas, técnicas comerciais e educação para o lar. A nova modalidade de ensino seria oferecida aos alunos da 5ª à 8ª séries do ginasial (1º grau), até chegar ao ensino médio (2º grau), aproveitando as conquistas dos chamados Ginásios Orientados para o Trabalho (GOT).

 

Para a implantação do novo projeto educacional – franqueado aos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Pernambuco e Bahia –, o Ministério da Educação (MEC) já vinha promovendo atualizações na legislação educacional, visando a uma formação mais profissionalizante, digamos assim, dos estudantes na nova realidade nacional sob o comando dos golpistas militares de 1964.

 

O novo modelo de ensino – dito polivalente por causa do binômio educação/trabalho – trazia a marca do governo federal, responsável pela implantação estrutural e formação docente – através do Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio (PREMEM) com dois anos de duração –, cabendo aos estados a manutenção das unidades de ensino, bem como o pagamento salarial dos professores e pessoal de apoio.

 

Claro que o modelo polivalente, mesmo que contaminado pelas segundas intenções dos políticos da época, possuía uma justificativa teórico-pedagógica inspirada na Escola Nova e, sobretudo, no pragmatismo norte-americano trazido para cá por Anísio Teixeira, um defensor da educação pública gratuita e da formação integral dos alunos, inclusive já tendo feito história na educação baiana, com a criação do Centro Educacional Carneiro Ribeiro (Escola Parque), de vocação profissionalizante.

 

Feita essa apresentação, passemos ao Decreto nº 23.072 de 30 de agosto de 1972, que criou a Escola Polivalente de Itanhém. O decreto foi assinado pelo então governador Antonio Carlos Magalhães e pelo seu secretário de Educação Rômulo Galvão.

 

 

O ato de criação do Polivalente itanheense, contudo, constitui apenas o final feliz de uma campanha liderada pelo saudoso Sady Teixeira Lisboa, que moveu mundos e fundos, como se diz, para trazer essa maravilha para Itanhém. A escritura pública de doação da área onde seria instalado o ginásio-modelo – e registrada em 8 de janeiro de 1971 – traz a assinatura de Sady.

 

Sempre bom lembrar que Sady Teixeira Lisboa é o maior líder político itanheense e, no tocante à Escola Polivalente, o empenho dele foi decisivo para que a escola viesse para Itanhém. Já ganhou ares folclóricos o bate-boca que Sady teria travado com então secretário de Educação da época, Rômulo Galvão, que teria feito pouco caso da pretensão do itanheense em desejar algo tão grandioso para sua pequena cidade. Mas Sady bateu o pé e levou a melhor.

 

Garantida a conquista da unidade de ensino, depois Sady se concentrou em capacitar o corpo docente da futura escola. Para tanto, ele convidou alguns normalistas recém-formados em Magistério (turma de 1970) do Colégio São Bernardo de Itanhém, para que prestassem o PREMEM, em Salvador, a fim de atuarem no Polivalente. Entre os novos professores, estavam Edite Jardim, Enelita Freitas e José Carlos Teixeira.

 

Além disso, o incansável Sady ainda convocou outros professores em Caetité para que, uma vez habilitados pelo PREMEM, pudessem lecionar na Escola Polivalente e, assim, contribuir com a formação do alunado. Entre os educadores que vieram de Caetité, citam-se os Francisco Lopes Filho e José Alves de Souza, e as professoras Elaci Gomes da Silva e Guiomar Alves de Souza. Sady ainda providenciou a residência para todos na capital baiana.

 

O professor de matemática Gonçalo e o então diretor do Poli José Carlos Teixeira

 

Assim que foi inaugurada, a Escola Polivalente se transformou na grande sensação no início dos anos 70 em Itanhém, absorvendo a demanda oriunda da sede, distritos, vilas e zona rural. Atraindo também alunos das cidades circunvizinhas, tanto baianas, como Medeiros Neto, quanto mineiras, como Palmópolis. Afinal de contas, frequentar as salas do Poli era motivo de orgulho para todos.

 

Quem teve o privilégio de passar pelos bancos da escola, especialmente no período áureo (início dos anos 70 e meados dos anos 80), jamais se esquecerá dessa experiência marcante. Isso vale também para quem, como eu, teve a sorte de conviver com professores inesquecíveis, como Enelita Freitas, Beatriz Cordeiro (in memoriam), Edith Ramalho, Regina Correia, Odalice Sena, José Carlos Teixeira, João Batista de Oliveira (in memoriam) e tantos outros.

 

Além de professor, José Carlos Teixeira fez história como diretor do Polivalente, sucedendo a Francisco Lopes (Chico), que, cumprida sua missão, retornara para sua terra natal. O brilhantismo com que José Carlos conduziu o Poli acabou por levá-lo à política, de modo que se tornou vice-prefeito e também secretário de Educação. Ele foi o criador das memoráveis gincanas culturais que tanto agitaram as festas dedicadas à emancipação política da cidade, em 14 de agosto, de todo ano.

 

A Escola Polivalente de Itanhém fez e continua fazendo história, tanto que sua presença ajuda a explicar, por exemplo, o fato de Itanhém ser vista como um celeiro de talentos na região. Seja na arte, na cultura, no esporte ou na ciência, muitos itanheenses vêm se destacando e conquistando seu espaço mundo afora.

 

Muito desse êxito se deve, sem dúvida, ao fato de a cidade ter se tornado durante a sua história um ponto de convergência dos migrantes chegados de Minas Gerais, Espírito Santo e sertão baiano, e de interesses os mais diversos, como econômicos, sociais e religiosos. Mas qualquer explicação sociológica séria não pode prescindir da presença da educação polivalente no município.

 

A Escola Polivalente virou Colégio Polivalente e, desde meados da década de 90 do século passado, vem oferecendo o ensino médio ao público estudantil. Mas o ideal pedagógico e o clima transformador que marcaram as primeiras turmas ficaram no passado glorioso. E aquele projeto inovador acabou abandonado pelo governo estadual por causa do alto custo de manutenção. Eis aí a explicação oficial, mas a gente sabe que a educação brasileira vive de altos e baixos, dando um passo para frente e dois para trás, mas o bom e velho Poli segue cumprindo seu papel relevante: formar as novas gerações e aprimorar as consciências.

 

…………………………………….

 

Almir Zarfeg, poeta e jornalista, é presidente de honra da Academia Teixeirense de Letras (ATL).

 


JORNAL INDEPENDENTE


Siga as redes sociais