Publicado em: 29/03/2022 Atualizado:: março 29, 2022
Acadêmico João Carlos de Oliveira, autor de “Colóquio com o silêncio”
Em “Colóquio com o silêncio” (Scortecci, 2021), sua décima obra poética editada em papel, João Carlos de Oliveira dá uma aula sobre bucolismo e simplicidade. São poemas de ocasião, versando sobre os mais variados temas, que ele manteve no “cofre da cumbuca” e que, após uma década, resolveu trazer a público.
Em sua maioria, trata-se de textos sintéticos, como haicais, poemetos com uma única estrofe e também poemas mais longos e reflexivos, todos marcados pelos versos livres, quase sempre desprovidos de rimas, mas expressos com muito ritmo e, sobretudo, com muita elegância estilística.
(Aconselhamos com veemência a leitura do prefácio/aula, assinado pelo próprio João, autodenominado Gerônimo do Sertão!)
Há momentos em que o poeta se converte em filósofo e, não mais que de repente, brinda seus leitores com tiradas repletas de humor e reflexões sobre o amor, a política e as aventuras (desventuras) do bicho homem na pós-modernidade. Nesses momentos os versos pensantes de João Carlos soam como aforismos de alguém muito experiente que, cansado de emocionar, resolveu informar, ensinar e exortar.
De “Colóquio com o silêncio”, no entanto, sobressaem o bucolismo e a simplicidade. Porque assim o quis e continua querendo o poeta João, natural de Cachoeira Grande, distrito de Jacobina, município localizado no extremo norte da Chapada Diamantina (que o poeta trocaria por Nanuque/MG e, depois, por Teixeira de Freitas/BA, tornando-se baianeiro, mas aí é outra história!). Nesse terreno árido mas substantivo é que está plantada a árvore bucólica (jurema), da qual o poeta extraiu mil e uma impressões (inspirações) para alimentar sua verve nas últimas quatro décadas. Mais que bucolismo, talvez o correto seria tachar esse rio caudaloso e profundo de impressionismo rural, que dá nome aos bois e imprime um jeito clássico de dizer o simples e nomear o essencial.
Assim, mesmo quando reflete sobre o fazer poético, João Carlos não abre mão da simplicidade – que lhe é intrínseca – nem do lirismo e da atitude clássica – que lhe são inseparáveis –, para definir aquilo que muitos só fazem revolucionando (humilhando) a forma:
“Calado, medita um pouco arredio.
Nunca falante, talvez, meio sonso.
Sim, nesse momento estupendo
transportando-se valente o penedio,
é que abundantemente pensa
sem ter dito uma nesga de nada,
e, quando algo quer, não pede,
quanto a um fato apenas insinua
que a moçoila sempre apaixonada
chora baixinho no seu oculto divã.
Oxalá, pudesse passar por aqui,
mas dono de leve sorriso brejeiro
o poeta está por trás da montanha
espiando a Lua a passear vagarosa
e ele a ver a sua musa desnuda livre
absorta nas águas claras do riacho”
[“Poeta”, página 49]
Pela sua décima obra poética editada, João Carlos de Oliveira será homenageado com uma Moção de Aplausos na sessão solene da Academia Teixeirense de Letras, marcada para as 19h do dia 8 de abril, no auditório da Câmara de Vereadores de Teixeira de Freitas/BA. Também receberá uma medalha por sua participação exitosa no Prêmio Castro Alves de Literatura 2022. Ele, que é membro titular da Cadeira 27 da ATL, tendo como patrono o saudoso Sheneider Cordeiro Correia. Parabéns, Confrade! Avante, ATL! Com as bênçãos do nosso patrono-geral, Castro Alves!
Por Almir Zarfeg