Publicado em: 08/04/2023 Atualizado:: abril 8, 2023
Pouco mais de duas semanas após adiar sua ida à China por conta de uma pneumonia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca na próxima terça-feira (11) para a Ásia, em uma viagem repleta de expectativas. A rapidez na remarcação de uma visita de alto escalão — algo pouco usual por conta da complexidade das agendas — refletiu uma vontade política dos dois países em fazer o encontro acontecer.
Enquanto Lula vai praticamente emendar China e Abu Dhabi com compromissos em Portugal e na Espanha, o presidente chinês, Xi Jinping, encaixou a reunião com o brasileiro na sequência de agendas com o russo Vladimir Putin e os líderes Emmanuel Macron, presidente da França, e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.
Entre as principais apostas para a viagem está um eventual ingresso do Brasil na iniciativa Cinturão e Rota, projeto de US$ 1 trilhão de investimentos chineses em infraestrutura e comércio ao redor do mundo. Ainda na seara econômica, é aguardado o anúncio da instalação de uma fábrica chinesa de carros elétricos no complexo industrial que pertencia à Ford, perto de Salvador. Nas comunicações, os dois países devem discutir a modernização de um programa de cooperação tecnológica para a produção de satélites, como antecipado em fevereiro pelo Valor.
Um dos itens centrais da pauta, contudo, será a guerra na Ucrânia. Lula já manifestou o desejo do Brasil de participar de alguma iniciativa para mediar o conflito. A China fez o mesmo, apesar de Xi Jinping ter demonstrado até agora uma proximidade bem maior com Moscou. Ele esteve recentemente com Putin e não consta que tenha conversado com o lado ucraniano.
A agenda de Lula deve ser um pouco mais enxuta do que a previsto no roteiro original. A comitiva presidencial tem compromissos em Xangai na próxima quinta-feira (13), quando o presidente visitará o Banco do Brics, agora comandando por Dilma Rousseff. No dia seguinte, embarca para Pequim para a reunião com Xi e outras autoridades locais. De lá, segue para os Emirados Árabes e, na sequência, retorna para Brasília.
O cancelamento da viagem programada para o final de março acarretou em uma série de mudanças no formato da visita. Dezenas de empresários que já haviam embarcado para a China antes de a pneumonia de Lula ser diagnosticada mantiveram algumas agendas, com destaque para o Seminário Econômico Brasil-China, organizado pelo Itamaraty e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex). O evento, realizado em 29 de março, contou com a participação de aproximadamente 500 empresários dos dois países.
Um dos participantes foi o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, convidado por Lula a acompanhar a nova comitiva. Além dele, devem ir os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores), além do assessor especial de Lula para assuntos internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim.
Em entrevista ao Valor, Amorim disse que não enxergava problemas em uma eventual adesão do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota. A seu ver, o ingresso não representaria uma “preferência” pela China na Guerra Fria 2.0 e nem uma aversão aos americanos. Apesar disso, o governo dos Estados Unidos vê com preocupação uma aproximação maior entre brasileiros e chineses.
A visita de Lula a Washington, em fevereiro, foi considerada pouco produtiva pelo governo brasileiro, e a expectativa agora é diferente. Lula espera voltar de Pequim com anúncios concretos relevantes e a adesão ao megaprograma chinês entraria nessa lista. Ainda assim, ninguém garante que o acordo sairá agora. “É uma pergunta de 1 milhão de dólares”, respondeu uma pessoa que integrará a comitiva.
Além de seus principais auxiliares, o petista convidou para a viagem os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O primeiro deve compor a comitiva oficial, juntamente com alguns dos oito senadores chamados. Já Lira deve permanecer no Brasil. Foram convidados pelo Planalto 29 deputados federais.
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Fonte: Valor Econômico