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Resenha: “O cachorro cor de caramelo que vivia nas ruas de Jaguaré”, de Edelvânio Pinheiro

Publicado em: 29/01/2022 Atualizado:: janeiro 29, 2022

 

Por Almir Zarfeg

 

Com a obra “O cachorro cor de caramelo que vivia nas ruas de Jaguaré”, Edelvânio Pinheiro entra para o clube dos autores de literatura infantil e infantojuvenil do extremo sul baiano. Do qual fazem parte nomes como Enelita Freitas, com a saga de Marita; Fabiana Pinto, com as aventuras de Pérola e sua turma; Maurício de Novais, com personagens interessantes como Alice, Pablo, Zezão e Palito.

 

Mas é com Katrine Carvalho que Edelvânio Pinheiro mantém maior proximidade estilística, já que ambos escolheram cachorros para protagonizar suas histórias. Fred, o labrador amarelo, no caso de Katrine. E um vira-lata anônimo, no caso de Edelvânio.

 

Mas as semelhanças param por aí. Porque, ainda que lancem mão da fábula como estratégia narrativa, Katrine e Edelvânio tratam de temas diferentes e até opostos nos dois livros em questão, oscilando entre vida/morte, alegria/tristeza e comédia/tragédia.

 

Em Katrine, os leitores conhecem Fred, que um belo dia deixa o canil após ser adotado por uma família de humanos. A partir dali, o labrador amarelo receberá o carinho de Carlinha, que não medirá esforços para agradar ao novo amiguinho: passeios pela cidade, brincadeiras de bola e até, pasmem, bolo de aniversário. Enfim, um vidão para matar cachorro de inveja.

 

Já em “O cachorro cor de caramelo que vivia nas ruas de Jaguaré” (Editora Flamingo, 2021), a vida do protagonista está longe de ser uma maravilha. Ele leva uma vida canina mesmo.

 

Literalmente. Pensem num coitado de quatro patas largado pelas ruas e avenidas de uma cidadezinha qualquer do interior do país. Nesse caso, a cidadezinha se chama Jaguaré e, por ironia do destino, fica situada no Estado do Espírito Santo!

 

 

A vida do cãozinho caramelo não era nada fácil, muito pelo contrário. Sobreviver para ele era uma temeridade que, dia após dia, significava comer restos de comida, revirar lixos e – o pior de tudo – enfrentar as agressões e os maus-tratos das pessoas. Claro que, às vezes, aparecia alguém de bom coração que lhe atirava migalhas de pizza ou nacos de cachorro-quente (pois é) deliciosas.

 

Apesar das dificuldades da rua (quem disse que vida de bicho não tem espaço para a fantasia?), o cachorro cor de caramelo se permitia sonhar com maravilhas: um prato repleto de ração, um canil para chamar de seu e a proteção de uma família bem legal e generosa. Mas nada é tão ruim que não possa piorar, não é mesmo?

 

Pois bem, na noite capixaba de 12 de outubro de 2020 se deu o encontro fatídico entre o cachorro cor de caramelo e seu algoz bipolar… Em pleno Dia da Criança, a vida resolveu imitar a fábula ou terá sido o contrário?

 

Para o cãozinho, à primeira vista, o encontro com Manoel Batista dos Santos Júnior poderia significar a tão sonhada adoção ou, pelo menos, o início de uma amizade entre o animal carente e o jovem apessoado. Enfim, uma nova vida para o pet da cor de caramelo.

 

Para o Mané, contudo, o encontro não se lhe apresentou nada amistoso. Não rolou empatia, sequer simpatia. Ele apenas viu diante de si um cachorro de rua, abandonado, faminto e aparentemente doente, que deveria ser sacrificado. Não resgatado, socorrido ou adotado.

 

O saldo desse crime hediondo conhecemos em detalhes porque foi parar nas seções policiais dos diários, sites e telejornais. A saber: a prisão do famigerado agressor e a morte prematura do cão inocente. A vitória da decepção sobre a esperança.

 

O fim trágico do cachorro poderia ter virado roteiro para um filme de terror ou conto de suspense à maneira de Poe. Ainda bem que acabou inspirando este ótimo “O cachorro cor de caramelo…”, de Edelvânio Pinheiro.

 

Eu os convido, leitores, a que leiam esta obra e se emocionem à vontade. Aproveitem também para curtir as ilustrações incríveis de Paulo Alaor e o acabamento primoroso da Editora Flamingo. Para português nenhum botar defeito.

 

 

Almir Zarfeg é poeta, jornalista e ficcionista. Em 2021, publicou seu primeiro romance – “Estação 35” (Lura Editorial).


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